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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

POR ISSO AMO MEU RECIFE ASSIM COMO CLARICE LISPECTOR

Foto: Cosac Naify/divulgação
Dos 4 aos 15 anos de idade, Clarice Lispector viveu por entre as ruas do bairro da Boa Vista, no Centro do Recife. A cidade abrigou a futura escritora após ela ter emigrado da Ucrânia (onde nasceu) junto com os pais e as duas irmãs. Nas décadas de 1920 e 1930, a família Lispector integrou efervescente comunidade judaica, viveu na pobreza e passou por tempos difíceis, como quando a mãe dela morreu. Mesmo tendo morado no Rio de Janeiro e no exterior, as reminiscências da infância no Recife acompanhariam Clarice até o fim da vida. 

Caso estivesse viva, a autora de A hora da estrela completaria, hoje, 93 anos. Para a pesquisadora Nádia Gotlib, doutora em literatura brasileira, a cidade teve grande importância para Clarice, a ponto de aparecer em vários contos autobiográficos. “Ela rememora o carnaval e a mãe doente em Restos do carnaval, lembra-se da colega de escola rica, filha de dono da livraria Imperatriz, que não lhe empresta o livro desejado, em Felicidade clandestina. Reconta, com saudade, os tempos em que ia de madrugada do Recife para Olinda tomar banho de mar na praia do Carmo, em Banhos de mar”, destaca a biógrafa de Clarice.
 
TRÊS PERGUNTAS >>> NÁDIA GOTLIB >> BIÓGRAFA DE CLARICE LISPECTOR 
Quão relevante foi o Recife para Clarice Lispector?
Muito importante. Em 1976, um jornalista lhe perguntou “se o Recife continua existindo em Clarice Lispector”, e ela respondeu: “Está todo vivo em mim”. A entrevista foi quando Clarice voltou ao Recife para rever lugares da infância, que aparecem nos contos autobiográficos. As lembranças ficaram gravadas para todo o sempre. Ela pode ser considerada uma “cronista da cidade do Recife”'.

A relação foi intensa no caso das irmãs, Tania e Elisa Lispector?
As três guardaram Recife na memória. Clarice é a que faz mais referências explícitas ao Recife, tanto em entrevistas quanto em contos e crônicas. Elisa escreveu cerca de dez livros, muitos autobiográficos, mas não se refere à cidade nos termos em que Clarice o faz, cita sobretudo a ascendência judaica. Tania foi quem me apresentou o casarão em que a família morou na praça Maciel Pinheiro. Ela se referia a esse prédio sempre com saudade. 

Fala-se muito sobre transformar o local em casa-museu para abrigar o acervo cultural das Lispector, mas o projeto não se concretiza. Seria importante? 
Torço para que o projeto siga em frente e possa ser executado. Não é qualquer cidade que pode contar com a feliz constatação de que ali viveu uma escritora tão importante quanto Clarice, e que, além de Clarice, a cidade também abrigou duas outras escritoras, ainda que menos conhecidas que a primeira - Elisa e Tania. Há muitos anos nós, leitores e admiradores da literatura das Lispector e da cultura nordestina, estamos esperando por isso.
 
>> o  passeio
Para lembrar a relação de Clarice com o Recife, o Viver sugere um passeio ciclístico pelos locais que marcaram e foram marcados pela escritora.
 
1) Saída - ESCOLA JOÃO BARBALHO
A primeira escola de Clarice foi o Grupo Escolar João Barbalho, na Rua do Hospício, 737, próximo ao Parque 13 de maio. Lá, ela manteve amizade inseparável com um garoto de sua idade chamado Leopoldo Nachbin.

2) Pedale 250 metros: FACULDADE DE DIREITO
Um ano antes de morrer, ela visitou a escadaria da Faculdade de Direito do Recife, onde brincava durante a infância. Enquanto criança, achava que era muito grande, e quando voltou à cidade, a enxergou em seu “tamanho real”.

3) Pedale 450 metros: GINÁSIO PERNAMBUCANO 
Foto: Jaqueline Maia/DP/DAPressEm 1932, Clarice passou a estudar no Ginásio Pernambucano, a mais prestigiada escola secundária do estado, à margem do Rio Capibaribe.

4) Pedale 550 metros: TEATRO SANTA ISABEL
Depois de assistir a espetáculo no Teatro Santa Isabel, Clarice, ainda jovem, escreveu uma peça em três atos chamada Pobre garota rica. O texto se perdeu.

5) Siga por mais 350 metros: AVENIDA CONDE DA BOA VISTA
Em 1933, os Lispector se mudam para casa na avenida Conde da Boa Vista, 178.

6) Vá por mais 230 metros: RUA NOVA
Em julho de 1930, a família de Clarice observa tumulto que ocorria na Confeitaria Glória, na Rua Nova. O então governador da Paraíba, João Pessoa Cavalcanti Albuquerque, havia sido assassinado. Um ano depois da morte da mãe de Clarice, em 1930, a família se mudou para outro prédio, na Rua Nova.
 
Foto: Cecília de Sá Pereira/DP/DAPress
Foto: Cecília de Sá Pereira/DP/DAPress
7) Pedale 600 metros - PRAÇA MACIEL PINHEIRO
O centro da comunidade judaica era a Praça Maciel Pinheiro, conhecida em ídiche como “pletzele”. No local, foi erguida estátua em homenagem a Clarice, que morou por anos na Rua do Aragão, 367. Em 1976, Clarice veio ao Recife para dar uma palestra, e insistiu em se hospedar no Hotel São Domingos, na esquina da Praça Maciel Pinheiro. Ela gastou horas olhando para o local onde passou a infância.

8) Pedale mais 100 metros - RUA DA IMPERATRIZ 
Clarice frequentava a livraria Imperatriz (Rua do Imperatriz), a melhor da época.

9) Vá por mais 450 metros: RUA DA GLÓRIA 
Na terceira série, foi transferida para o Colégio-Hebreu-Ídiche-Brasileiro (atual Colégio Israelita), na Rua da Glória, perto da Praça Maciel Pinheiro.

Que saudade do meu Recife.

NM com Diário de Pernambuco

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