O glamour em torno de astros do porte de Guerrero e Fred e as cifras milionárias que envolvem a chegada de Ronaldinho Gaúcho ao Fluminense não passam de um sonho distante para uma grande massa de jogadores que atuaram na Série A do Estadual do Rio em 2015.
De acordo com estimativa do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Saferj), 70% dos inscritos na competição estão sem emprego. Destes, muitos sobrevivem como podem em outras atividades. Traduzindo em números, aproximadamente 300 atletas profissionais estão convivendo entre a doçura da esperança e a dureza da realidade. Um deles é Thiago Leal, 31 anos, goleiro que jogou o torneio pelo Barra Mansa. Sem emprego desde o final da competição, Leal mantém uma pequena loja de artigos de festas infantis com a mulher, em Vassouras, interior do Rio. Com três meses de salários por receber, rescisão não paga e impostos não recolhidos pelo ex-clube, o goleiro tem fé de que irá encontrar um novo pouso, mas ele já não parece tão disposto a enfrentar o inferno vivido na equipe do Sul Fluminense.
— Houve ofertas, mas nada valia, era salário mínimo. Sair de casa para não receber é difícil. A maior culpada é a Ferj (Federação de Futebol do Rio), que faz os campeonatos visando só o primeiro semestre, enquanto outros estados têm calendário o ano inteiro — criticou o jogador.
O drama não se limita apenas às equipes da elite. Com o final da Série B e a não participação do São Cristóvão na Copa Rio, competição que reunirá 20 clubes de menor investimento entre agosto e novembro, o meia Igor Catunda, o Iguinho, de 20 anos, trocou o papel de organizador de time pelo de “faz tudo” em um bar. A pedido do pai, gerente do estabelecimento, ele bate ponto no local diariamente. Até o momento, não há nenhuma perspectiva real para o prosseguimento de sua carreira. Mas, enquanto se divide entre bandejas de chopp e pratos de petiscos, Igor angaria material para a confecção de um DVD com seus lances. Para ele, é quase impossível sobreviver no mundo da bola sem um empresário influente.
— Acho que contato gera contato. Correr por si próprio sem ter uma ajuda é muito complicado — comentou Igor, que alega também ter salários em aberto no São Cristóvão.
Praças de menor apelo também são sinônimo de sofrimento para quem luta pela afirmação. Após disputar o Capixaba, o lateral-direito Vitor está de volta ao Rio. Para manter a forma, disputa jogos de Fut 7. Mas na falta de um trabalho fixo nos campos , ele ganha dinheiro vendendo chuteiras e perfumes.
— Nem iguala o que eu ganhava jogando — lamentou.
Essa é a realidade...
NM com site extra.globo.com
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