do GloboEsporte.com, no Rio
O advogado brasileiro que atua na defesa de José Maria Marin em Zurique, Paulo Peixoto, afirma: o ex-presidente da CBF pode ser solto na próxima semana. Tudo depende da decisão da Justiça Federal Suíça (FOJ, na sigla em inglês), que segundo ele deve sair entre os dias 20 e 21 - embora o prazo máximo seja até o dia 30 deste mês. A defesa por escrito do cartola foi entregue nesta terça-feira e sustenta que não há provas para justificar a extradição. Ele confirmou que até o momento só existe uma gravação do dirigente que dá a entender a participação em um esquema de propina, mas o suposto dinheiro ainda não apareceu. Peixoto está embarcando para a Suíça na próxima semana e, na sua análise, no caso de uma decisão favorável, Marin tem de ser colocado em liberdade imediatamente.
Peixoto esclareceu que a estratégia do brasileiro é somente negar a extradição, por considerar que não há sustentação para o pedido das autoridades americanas. Ele informou que o "pool" de advogados que trabalha no caso já tem contato com as autoridades americanas desde o dia 1 de junho e que isso nada tem a ver com delação premiada. O advogado disse que, mesmo em liberdade, Marin responderá ao processo americano até o fim e não há necessidade de manter a prisão pois tem bens no Brasil e no exterior capazes de garantir uma eventual multa imposta pela Justiça.
Ainda de acordo com o advogado, a esposa de Marin não viajou para a Suíça e só se comunicou com o dirigente por cartas. Peixoto afirmou que, no momento, Marin não pode responder sobre qualquer outra questão que não seja o processo de extradição, sob pena de prejudicar sua defesa. Essa foi a justificativa para que, por ora, esteja vetado o comparecimento à CPI do Futebol, que teve o seu plano de trabalho anunciado nesta terça-feira no Senado.
Confira a entrevista com Paulo Peixoto
Houve alguma mudança de estratégia no sentido de negociar uma delação premiada ou a possibilidade de responder ao processo em solo americano?
A única estratégia até agora, tomada por todos os advogados do Marin, é a negativa da extradição. Foram contratados os maiores especialistas da Suíça, equipe norte-americana e advogados no Brasil. Por quê? Porque nós entendemos que não é caso de extradição. Estamos provando tecnicamente, como já fizemos ontem, quando entregamos a defesa. Não há motivo para ele ser extraditado e preso nos Estados Unidos se ele, primeiro, tem 84 anos; segundo, tem bens no Brasil e no exterior suficientes para cobrir eventual multa que seja imposta pela Justiça; terceiro, não há justificativa para tê-lo no cárcere porque se a questão está atrelada aos contratos e às informações bancárias, os Estados Unidos já pegaram todas as informações. Então seria tão somente levá-lo como um troféu, e a gente entende que isso é descabido. E ainda outras questões técnicas que estão na defesa.
Até o momento só existe uma gravação que implicaria o Marin, mas o dinheiro dessa suposta propina não se sabe, correto?
- Não se sabe, tanto que não é imputada a ele a lavagem de dinheiro, ou crime de sonegação. Só a conspiração, ou seja, a gravação dá a entender que ele quis fazer ou lesar. Aqui no Brasil, seria uma mera ligação e nada além disso. Nos Estados Unidos é uma política criminal diferente. Eles entendem que deve ser punido aquele que pensou em fazer alguma coisa errada. O Marin está sendo punido por isso, por ter no telefone, na gravação, na conversa, dado a entender eventual participação em esquema de propina. Essa é a questão. Não há outra estratégia. A conversa com os Estados Unidos ocorre desde o dia 1 de junho. Por quê? Primeiro entender o que está acontecendo, segundo para saber, no caso de a Suíça aceitar a extradição, como seria. Preciso deixar o meu cliente ciente do que pode acontecer. Não tem proposta de acordo, não tem delação, você está falando com o único advogado brasileiro que conversa com o Marin. Isso que estou passando é o que converso com o cliente.
Quantos advogados trabalham no caso?
- É um pool de advogados, acho que são nove envolvidos. Temos duas equipes nos Estados Unidos, uma equipe na Suíça que se desdobra em três, o Wyss, o Friedli e o Martin, que é mais um técnico que presta informações sobre extradição da equipe do próprio Friedli. Todos os advogados na Suíça estão subordinados a ele, concentramos nele por conta do nome, do histórico.
Dona Neusa visitou pessoalmente o Marin?
É só pedir para a Polícia Federal informar. A Dona Neusa não saiu do país. Ela se encontra no Brasil desde o dia 30 de maio. Ela não visitou por dois motivos. Primeiro, porque numa carta ele pediu que ela não o fizesse pois seria a morte para ele. Segundo, nós advogados entendemos que é desnecessária qualquer tipo de conversa dela com o marido. Eles se falam por carta. Devem ter trocado umas três ou quatro cartas, mas a Neusa está no Brasil aguardando decisão da Justiça Federal Suíça.
Quando sai a decisão da Justiça Federal da Suíça?
Estamos com expectativa grande de que isso aconteça na semana que vem.
O porta-voz da FOJ afirmou que, mesmo com uma decisão de primeira instância favorável, eles poderiam recorrer. O que ocorre se, na próxima semana, a FOJ negar a extradição aos Estados Unidos?
Uma vez que a extradição for negada, ele sai em liberdade automaticamente.
Mesmo se a Justiça Suíça recorrer?
Justiça Suíça não pode fazer nada, quem pode recorrer é a Justiça americana. A Suíça só julga. No caso de a extradição ser negada, o Marin é colocado em liberdade porque a hipótese de recurso para o país requisitante é muito restritiva. Já para indivíduo que se encontra preso ela é qualitativa e aumentativa, tem direito de recurso efetivamente quem está preso. Nesse caso o Marin ainda tem duas instâncias. A Justiça Suíça é somente o juízo da adimissibilidade da extradição, nada além disso.
Mas Procuradoria não poderia não concordar com a negativa em extraditar e recorrer? Como ocorre aqui no Brasil, o Ministério Público tem uma decisão desfavorável e recorre...
Desde que o Ministério Público seja parte no processo. A Suíça não é parte no processo. As partes são governo americano e José Maria Marin. A Suíça só está analisando o caso porque a prisão foi feita no território dela, nada além disso.
Mas o Marin se dispõe a responder todo o processo americano, mesmo se estiver em liberdade no Brasil?
Lógico, o processo só termina se o Marin falecer. Se o Marin estiver no Brasil, na China, em qualquer lugar o processo vai seguir e naturalmente ele vai responder. O que ele demonstrou em nossa conversa é que, independente dele ser extraditado ou não, ele quer responder o quanto antes as questões da Justiça americana para provar sua inocência, não ficar com essa pecha por um longo período de tempo. Ele vai responder, vai comparecer a todos os atos do processo, isso está muito claro. Já há declaração dele próprio nesse sentido no momento do interrogatório.
Essa data da decisão pode ser fixada na segunda-feira?
Não é que pode ser fixada na segunda, vou ter mais tranquilidade primeiro porque vou estar lá. Pelo que a gente conhece de casos semelhantes, talvez tenhamos a decisão no dia 21. A Justiça coloca lá prazo limite 30 de agosto, nós estamos trabalhando com julgamento no dia 20 ou 21.
O Marin de fato não aceitou o convite para falar na CPI?
Não, está distorcido isso. Não chegou nada oficial. A questão do Marin, e do próprio Hawilla, é que orientei que até o fim do processo de extradição ele não responda nada até sob pena de ter um prejuízo na defesa dele. A questão é essa, temporal. Passada a questão temporal, se perdermos tudo e recorrermos de tudo, essa questão deve terminar em novembro. Aí a gente vai voltar a pensar e refletir sobre a CPI. Hoje o Marin está respondendo somente as questões da extradição. Ele teria de responder tudo silêncio, silêncio, silêncio, então talvez o momento adequado não seja agora.
Peixoto esclareceu que a estratégia do brasileiro é somente negar a extradição, por considerar que não há sustentação para o pedido das autoridades americanas. Ele informou que o "pool" de advogados que trabalha no caso já tem contato com as autoridades americanas desde o dia 1 de junho e que isso nada tem a ver com delação premiada. O advogado disse que, mesmo em liberdade, Marin responderá ao processo americano até o fim e não há necessidade de manter a prisão pois tem bens no Brasil e no exterior capazes de garantir uma eventual multa imposta pela Justiça.
Ainda de acordo com o advogado, a esposa de Marin não viajou para a Suíça e só se comunicou com o dirigente por cartas. Peixoto afirmou que, no momento, Marin não pode responder sobre qualquer outra questão que não seja o processo de extradição, sob pena de prejudicar sua defesa. Essa foi a justificativa para que, por ora, esteja vetado o comparecimento à CPI do Futebol, que teve o seu plano de trabalho anunciado nesta terça-feira no Senado.
Confira a entrevista com Paulo Peixoto
Houve alguma mudança de estratégia no sentido de negociar uma delação premiada ou a possibilidade de responder ao processo em solo americano?
A única estratégia até agora, tomada por todos os advogados do Marin, é a negativa da extradição. Foram contratados os maiores especialistas da Suíça, equipe norte-americana e advogados no Brasil. Por quê? Porque nós entendemos que não é caso de extradição. Estamos provando tecnicamente, como já fizemos ontem, quando entregamos a defesa. Não há motivo para ele ser extraditado e preso nos Estados Unidos se ele, primeiro, tem 84 anos; segundo, tem bens no Brasil e no exterior suficientes para cobrir eventual multa que seja imposta pela Justiça; terceiro, não há justificativa para tê-lo no cárcere porque se a questão está atrelada aos contratos e às informações bancárias, os Estados Unidos já pegaram todas as informações. Então seria tão somente levá-lo como um troféu, e a gente entende que isso é descabido. E ainda outras questões técnicas que estão na defesa.
Até o momento só existe uma gravação que implicaria o Marin, mas o dinheiro dessa suposta propina não se sabe, correto?
- Não se sabe, tanto que não é imputada a ele a lavagem de dinheiro, ou crime de sonegação. Só a conspiração, ou seja, a gravação dá a entender que ele quis fazer ou lesar. Aqui no Brasil, seria uma mera ligação e nada além disso. Nos Estados Unidos é uma política criminal diferente. Eles entendem que deve ser punido aquele que pensou em fazer alguma coisa errada. O Marin está sendo punido por isso, por ter no telefone, na gravação, na conversa, dado a entender eventual participação em esquema de propina. Essa é a questão. Não há outra estratégia. A conversa com os Estados Unidos ocorre desde o dia 1 de junho. Por quê? Primeiro entender o que está acontecendo, segundo para saber, no caso de a Suíça aceitar a extradição, como seria. Preciso deixar o meu cliente ciente do que pode acontecer. Não tem proposta de acordo, não tem delação, você está falando com o único advogado brasileiro que conversa com o Marin. Isso que estou passando é o que converso com o cliente.
Quantos advogados trabalham no caso?
- É um pool de advogados, acho que são nove envolvidos. Temos duas equipes nos Estados Unidos, uma equipe na Suíça que se desdobra em três, o Wyss, o Friedli e o Martin, que é mais um técnico que presta informações sobre extradição da equipe do próprio Friedli. Todos os advogados na Suíça estão subordinados a ele, concentramos nele por conta do nome, do histórico.
Dona Neusa visitou pessoalmente o Marin?
É só pedir para a Polícia Federal informar. A Dona Neusa não saiu do país. Ela se encontra no Brasil desde o dia 30 de maio. Ela não visitou por dois motivos. Primeiro, porque numa carta ele pediu que ela não o fizesse pois seria a morte para ele. Segundo, nós advogados entendemos que é desnecessária qualquer tipo de conversa dela com o marido. Eles se falam por carta. Devem ter trocado umas três ou quatro cartas, mas a Neusa está no Brasil aguardando decisão da Justiça Federal Suíça.
Quando sai a decisão da Justiça Federal da Suíça?
Estamos com expectativa grande de que isso aconteça na semana que vem.
O porta-voz da FOJ afirmou que, mesmo com uma decisão de primeira instância favorável, eles poderiam recorrer. O que ocorre se, na próxima semana, a FOJ negar a extradição aos Estados Unidos?
Uma vez que a extradição for negada, ele sai em liberdade automaticamente.
Mesmo se a Justiça Suíça recorrer?
Justiça Suíça não pode fazer nada, quem pode recorrer é a Justiça americana. A Suíça só julga. No caso de a extradição ser negada, o Marin é colocado em liberdade porque a hipótese de recurso para o país requisitante é muito restritiva. Já para indivíduo que se encontra preso ela é qualitativa e aumentativa, tem direito de recurso efetivamente quem está preso. Nesse caso o Marin ainda tem duas instâncias. A Justiça Suíça é somente o juízo da adimissibilidade da extradição, nada além disso.
Mas Procuradoria não poderia não concordar com a negativa em extraditar e recorrer? Como ocorre aqui no Brasil, o Ministério Público tem uma decisão desfavorável e recorre...
Desde que o Ministério Público seja parte no processo. A Suíça não é parte no processo. As partes são governo americano e José Maria Marin. A Suíça só está analisando o caso porque a prisão foi feita no território dela, nada além disso.
Mas o Marin se dispõe a responder todo o processo americano, mesmo se estiver em liberdade no Brasil?
Lógico, o processo só termina se o Marin falecer. Se o Marin estiver no Brasil, na China, em qualquer lugar o processo vai seguir e naturalmente ele vai responder. O que ele demonstrou em nossa conversa é que, independente dele ser extraditado ou não, ele quer responder o quanto antes as questões da Justiça americana para provar sua inocência, não ficar com essa pecha por um longo período de tempo. Ele vai responder, vai comparecer a todos os atos do processo, isso está muito claro. Já há declaração dele próprio nesse sentido no momento do interrogatório.
Essa data da decisão pode ser fixada na segunda-feira?
Não é que pode ser fixada na segunda, vou ter mais tranquilidade primeiro porque vou estar lá. Pelo que a gente conhece de casos semelhantes, talvez tenhamos a decisão no dia 21. A Justiça coloca lá prazo limite 30 de agosto, nós estamos trabalhando com julgamento no dia 20 ou 21.
O Marin de fato não aceitou o convite para falar na CPI?
Não, está distorcido isso. Não chegou nada oficial. A questão do Marin, e do próprio Hawilla, é que orientei que até o fim do processo de extradição ele não responda nada até sob pena de ter um prejuízo na defesa dele. A questão é essa, temporal. Passada a questão temporal, se perdermos tudo e recorrermos de tudo, essa questão deve terminar em novembro. Aí a gente vai voltar a pensar e refletir sobre a CPI. Hoje o Marin está respondendo somente as questões da extradição. Ele teria de responder tudo silêncio, silêncio, silêncio, então talvez o momento adequado não seja agora.
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