Com 'tolerância zero', árbitros exageram nos cartões e expõem falta de critério
As cenas de grupos de jogadores raivosos xingando o árbitro por uma marcação polêmica eram praxe nos últimos anos. Para tentar coibir a indisciplina no futebol brasileiro, a comissão de arbitragem da CBF deu uma nova orientação aos árbitros: tolerância zero diante das reclamações. Como resultado, o que se viu no primeiro turno do Campeonato Brasileiro foi uma chuva de cartões e expulsões, alguns desnecessários e outros por exagero dos árbitros, como a do técnico do Grêmio, Roger, excluído do jogo mesmo sem Péricles Bassols ter sequer ouvido o que ele falou.
Foram 202 cartões amarelos por reclamação, num total de 954. A média é de dez punições por rodada. Também foram 31 expulsões pelo mesmo motivo - 54 no total -, sendo 12 técnicos, 15 jogadores, dois auxiliares e dois preparadores físicos.
“É uma nova filosofia. Tínhamos reclamações a todo momento, jogadores desafiando a arbitragem. E hoje a bola rola mais. Pagamos um preço por isso no início. Mas nas últimas rodadas vem baixando e os árbitros estão menos rigorosos”, analisa o ex-árbitro Leonardo Gaciba, que vê vantagens na radicalização: “Estávamos no momento de organizar a casa. Temos mais tempo de bola em jogo e uma média de menos de 28 faltas, o que é histórico se compararmos com competições anteriores.”
Se na terceira rodada foram 20 amarelos por reclamação, recorde no Brasileiro, na 16ª, foram cinco em dez jogos, o menor número, que subiu para oito nas rodadas seguintes e ficou em seis na 19ª.
Mas a nova orientação esbarra em um antigo problema da arbitragem brasileira: a falta de um critério único. Enquanto alguns aceitam reclamações brandas, outros amarelam quem reclama por estar apanhando, como Guerrero, e outros simplesmente mostram o cartão de forma exagerada, como o árbitro Anderson Daronco, que expulsou o técnico do São Paulo, Juan Carlos Osório, por dizer com o dedo em riste: “A advertência do meu jogador foi injusta, você errou, está equivocado.” O colombiano foi quem mais sofreu ao lado de Vinícius Eutrópio e Gilson Kleina, expulsos duas vezes.
Em outros esportes há exemplos distintos. Enquanto no rugby ninguém pode se dirigir ao árbitro para reclamar, no vôlei o capitão do time pode argumentar. Agora, no futebol brasileiro, resta aos jogadores se controlarem até que se defina um meio-termo, o que tem sido o grande problema atualmente.
“Sabemos que hoje tem juiz que dá cartão por qualquer coisa. Não adianta reclamar porque vai ser pior. Tem que aprender, ter equilíbrio maior, saber se comportar e evitar cartão bobo”, disse Jorge, lateral do Flamengo.
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