Até o ano passado, a CBF controlava manualmente as aplicações de mais de 10 mil faltas, 1,5 mil impedimentos, mais de 1,5 mil cartões amarelos e 100 cartões vermelhos em média de cada Campeonato Brasileiro. O trabalho era árduo, mas auxiliava no controle da arbitragem. A partir de 2016, a tecnologia fará esse serviço. A entidade adquiriu um software de análise de desempenho para melhorar a avaliação dos árbitros e assistentes do futebol brasileiro (veja no vídeo acima).
A plataforma é desenvolvida por uma empresa australiana, a Sportstec, e é a mesma usada por 15 equipes da Série A para seus jogadores e por vários clubes no mundo. A empresa recentemente foi adquirida pela Hudl, grande companhia norte-americana de tecnologia voltada ao esporte. A partir de agora, a CBF terá acesso instantâneo ao vídeo de todas as ações do árbitro durante uma partida. A partir da primeira rodada do Brasileirão, todos os jogos serão acompanhados por analistas treinados e gerem relatórios sobre o desempenho do trio de arbitragem.
Em 2015, foram mais de 10 mil faltas, 1,5 mil impedimentos, 1,5 mil cartões amarelos e 100 vermelhos: CBF terá vídeos e análises de todos (Foto: Marcello Dias / Futura Press / Estadão Conteúdo)
Foram adquiridos dois programas, o Sportstec Coda e o SportsCode. Ambos são auxiliados por outra ferramenta de scout. O Coda recebe os vídeos e sincroniza com os protocolos de observação, ou seja, os itens elaborados pelos especialistas: marcações de faltas, cartões amarelos, vermelhos, impedimentos, etc. O SportsCode é o editor de vídeos para cada item analisado. Nele, o observador poderá ver todos as faltas marcadas por um árbitro, por exemplo. Segundo a CBF, a intenção não é punir ou premiar os juízes com os resultados das análises, mas sim tentar melhorar o nível da atuação deles.
– Ao final de ano, vamos ter todas as informações. Ano passado marcamos quase 1,4 mil impedimentos, 10 mil faltas, 80 pênaltis, teremos tudo isso em vídeo em fácil acesso para o árbitro rever sua posição, sua postura, sua decisão, tudo. É um arsenal didático para espalhar para todos. É para melhorar nossa orientação. Verificar por que ele errou ou não, qual foi a motivação, qual situação o levou ao erro, ou usar bons exemplos. Hoje dependíamos muito dos comentários dos observadores. Agora temos a tecnologia para ter esse controle – declarou o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Sérgio Corrêa.
Sérgio Corrêa garante que a aquisição da tecnologia não está relacionada às críticas à arbitragem no ano passado. O relatório final Na Série A de 2015 foram marcados 1541 impedimentos. Segundo a CBF, houve um índice de acerto de 90% de acertos (1390). Foram assinaladas ainda 10887 faltas, 1824 cartões amarelos e 109 cartões vermelhos. De acordo com a análise final da entidade que coordena o futebol brasileiro, a maioria das ações dos árbitros foi acertada.
– Não será uma ferramenta para os julgamentos, já temos as transmissões oficiais e elas são usadas nos julgamentos. Vamos usar a tecnologia para coletar informações e melhorar nossa avaliação dos árbitros, nos nossos treinamentos. Vamos ter todo o histórico dos árbitros, e agora eles sabem que estão sendo observados e têm todas suas situações analisadas, lances positivos para melhorar no futuro – avaliou Corrêa.
O treinamento
Auxiliada por consultores da empresa dona do software, a CBF treinou 48 instrutores que serão os responsáveis por observar os árbitros e elaborar os relatórios após cada partida. A plataforma possui uma base, que é utilizada em todas as modalidades, e cada cliente o adequa segundo suas necessidades. Segundo o gerente da Sportstec no Brasil, César Andrade, não é possível enumerar a quantidade de dados que gerados pela ferramenta.
– Ela (plataforma) não tem limite, o limite é do observador. Dependendo do protocolo que se monta, podemos ter uma única variável. Mas posso ter também 10 dados referentes à uma única informação. Eles podem criar diversos itens e no final temos uma quantidade “X” de ações. É um pouco relativo. A questão numérica não vai importar tanto, e sim a avaliação do controle de jogo, das ações de prevenção, para não tornar o jogo de forma conturbada, como conversas, cartões amarelos. Portanto, a questão numérica não é um item primordial – analisou César.
Detalhe do software: analistas criam itens de avaliação (Foto: Reprodução/CBF)
Segundo César, o investimento para adquirir a tecnologia varia de R$ 60 mil a R$ 120 mil por ano. O serviço abrange não apenas a aquisição da licença para uso do software, como treinamento, instalação e equipamentos – tablets e computadores. A CBF optou por valor intermediário. De acordo com o consultor, a CBF é a primeira entidade do futebol que usa a ferramenta para monitorar a arbitragem. Em outros países, confederações de rugby usam o instrumento para avaliar quem apita.O software se popularizou no Brasil após a Copa do Mundo. Atualmente, Atlético-PR, Flamengo, Vitória, RB Brasil, São Bernardo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Ferroviária, Vasco, Fluminense, Coritiba, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Bahia, Santa Cruz, além da seleção brasileira (principal e base) utilizam a ferramenta. O Comitê Olímpico Brasileiro também é cliente da empresa. Na NBA, 29 das 30 equipes usam a tecnologia. Membros das federações também foram treinados e auxiliarão a CBF no processo. Por enquanto, as informações serão filtradas pelos analistas, que as repassarão aos árbitros. A intenção é que, no futuro, os juízes tenham acesso mais facilitado aos dados.
– O conceito é esse: quem está fazendo análise, marca tudo, e quando acabar o jogo e sincronizar tudo, a informação retorna tanto para o analista, quanto para o árbitro. O compartilhamento dos dados ainda é algo que está sendo discutido. A princípio os analistas fazem a análise e mandam os vídeos estatísticos para os árbitros. A estatística vai ser um suporte para as avaliações que eles fazem e sempre atrelado ao vídeo. Depois eles vão conseguir passar para outros árbitros como se deve atuar e como se deve corrigir certas situações – esclareceu César Andrade.
NM com Daniel Mundim
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