O Comitê Olímpico Internacional (COI) surpreendeu ao anunciar uma decisão sem precedentes para mostrar a política de tolerância zero ao doping. Nesta terça-feira, após reunião da entidade em Lausanne, na Suíça, o presidente Thomas Bach anunciou que atletas de Rússia e Quênia, classificados em qualquer esporte olímpico, terão que confirmar individualmente sua elegibilidade para os Jogos do Rio de Janeiro.
Apesar do maior controle, Bach abriu brecha para que "atletas limpos" do atletismo russo possam competir pela bandeira do próprio país. O dirigente explicou que o Comitê Olímpico da Rússia poderá apresentar a solicitação à IAAF após apresentação de elegibilidade dos competidores sob os critérios estabelecidos pelo COI.
Thomas Bach, presidente do COI, e Mark Adams, chefe de comunicação, em coletiva em Lausanne, Suíça (Foto: Reuters)
A expectativa para a entrevista coletiva desta terça era que Bach anunciasse a aprovação ou não da entidade sobre a possibilidade de que nomes do atletismo russo - cuja suspensão internacional foi mantida na última sexta-feira pela Federação Internacional (IAAF) - pudessem competir na Olimpíada sob a bandeira olímpica. O dirigente explicou que tal situação não seria possível porque só competem sob a bandeira da entidade atletas refugiados ou de países envolvidos em conflitos, mas explicou o procedimento e a decisão a cargo da IAAF.
Esta brecha aberta pelo COI pode evitar a aposentadoria precoce da bicampeã olímpica e medalhista de bronze em 2012, Yelena Isinbayeva. Após ter alcançado nesta segunda-feira o índice de 4,50m para entrar na disputa do salto com vara feminino, a estrela russa havia descartado a possibilidade de competir sob a bandeira neutra.
Para pleitearem as vagas olímpicas, os atletas de Rússia e Quênia de todas as modalidades presentes no programa da Olimpíada do Rio terão que apresentar cartas de inscrição emitidas por seus respectivos Comitês Nacionais e Federações esportivas, se submeterem a exames antidoping em laboratórios internacionais credenciados pela Agência Mundial Antidoping (Wada) e terem aprovação das federações internacionais que regem seus respectivos esportes.
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Isinbayeva fez campanha nas redes sociais para competir no Rio (Foto: Reprodução / Instagram)
- Sobre a política de não tolerância, em particular sobre Rússia e Quênia, são alegações muito substanciais. A conclusão da comissão é que as alegações substanciais põem dúvidas sérias na presunção de inocência dos atletas vindos desses países. Cada atleta vindo desses dois países terá que se declarar elegível pelas Confederações dos países e pelas Confederações Internacionais por avaliações individuais de elegibilidade. Por essa avaliação, os testes de laboratórios que neste momento foram feitos não podem ser levados em consideração. Terão que levar em conta testes supervisionados e aprovados por autoridades internacionais, que deverão olhar todas as circunstâncias e evidências, respeitar o código da Wada e regras aplicáveis em cada entidade - disse Bach.
O presidente do Comitê Olímpico Russo, Aleksandr Zhukov, disse que a entidade não pretende boicotar os Jogos Olímpicos, mas considera a possibilidade de uma ação judicial contra a IAAF. Bach afirmou que vai respeitar a atitude. O ministro dos esportes, Vitaly Mutko, adotou um discurso cauteloso, reconheceu o momento difícil e prometeu cooperar com o COI na luta pelo fim da dopagem.
- Eu acho que a posição é muito clara. Vamos respeitar. Fomos avisados que podem apelar na Justiça. É o direito de todo mundo. Vamos esperar os resultados dessas apelações na Justiça.
Bach afirmou ter conversado com o presidente da Wada,Craig Reedie, sobre a situação de cada agência nacional de doping sob investigação. O presidente do COI reforçou as diferenças das acusações contra os sistemas antidoping de Rússia e Quênia.
- A Wada disse que quatro países estão na lista. México, Espanha, Rússia e Quênia. Fomos avisados que Wada que os casos do México e da Espanha são administrativos que não afetam o sistema antidoping. No Quênia, a situação é houve problemas que precisam ser resolvidos. No topo disso, tivemos nos últimos meses um vácuo de testes nacionais entre os atletas. O Quênia é diferente da Rússia. Na Rússia, você tem alegações sérias sobre manipulações - afirmou.
Questionado sobre a situação de Yulia Stepanova, atleta responsável pela delação do escândalo de doping russo, Bach afirmou que o COI não debateu a questão. Segundo ele, a decisão cabe à IAAF.
- Não houve uma discussão sobre isso. Entendemos que a IAAF ainda precisa resolver a questão. Todo o resto é especulação.
Na última sexta-feira, em reunião em Viena, a IAAF decidiu manter a suspensão internacional ao atletismo russo que vigora desde novembro. A entidade avaliou que o país apresentou progressos significantes, mas que as medidas tomadas não foram capazes de alterar o que definiram como uma “cultura semeada” de tolerância ao doping.
Na última sexta-feira, em reunião em Viena, a IAAF decidiu manter a suspensão internacional ao atletismo russo que vigora desde novembro. A entidade avaliou que o país apresentou progressos significantes, mas que as medidas tomadas não foram capazes de alterar o que definiram como uma “cultura semeada” de tolerância ao doping.
Na opinião da comissão independente que avaliou a questão, comandada pelo norueguês Rune Andersen, o país ainda não estabeleceu um sistema capaz de punir e prevenir o uso de substâncias proibidas, havendo ainda obstáculos legais para se testar os atletas com eficiência.
Em abril deste ano, o Comitê de Revisão da Agência Mundial Antidoping (Wada, sigla em inglês) recomendou que o Quênia fosse declarado desobediente por perder duas vezes o prazo para se adequar às exigências da Wada. O país africano até havia apresentado uma nova lei antidopagem, a entidade não aprovou as medidas. A IAAF, no entanto, optou por não banir o atletismo do Quênia da Rio 2016.
O anúncio desta terça se junta aos esforços recentes do COI para combater o doping. O orçamento da entidade para testes antidopings no período anterior à Olimpíada passou de US$ 500 mil (quase R$ 1,8 mi) nos Jogos de Londres para US$ 1 milhão (quase R$ 3,6 mi) nos do Rio de Janeiro. Os exames passaram a ser mais intensos em esportes que a Wada declarou como os mais afetados pelo doping, como o atletismo.
Análises refeitas em amostras dos Jogos de Pequim 2008 e Londres 2012 flagraram dezenas de atletas, incluindo campeões olímpicos como a russa Anna Chicherova e o jamaicano Nesta Carter. Foram 454 testes refeitos de 2008, e 31 casos de doping identificados, sendo 14 de russos. Mais 23 infrações foram encontradas em 265 exames reavaliados de 2012.
Bach diz que ficaria feliz em ver Dilma na abertura
Também durante a Coletiva, Bach falou sobre a presença de Dilma Rousseff, presidente afastada, na abertura dos Jogos. O presidente do COI afirmou que ficaria feliz com um convite a Dilma.
- Isso é assunto do comitê organizador. O COI trabalhou muito bem com o governo da presidente Dilma Rousseff, e trabalhamos da mesma forma com o governo do presidente Michel Temer. Isso mostra que os Jogos Olímpicos do Brasil estão além da política e têm um aspecto unificador para os brasileiros. Eu ficaria feliz de ver Dilma durante os Jogos - afirmou Bach.
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