Crédito: revista do Esporte número 49 – 13 de fevereiro de 1960. |
O cenário é a cidade do Recife no começo dos anos 50.
Com o rosto marcado pela varíola, Haílton ocupava seu tempo vendendo água e apanhando mangas no quintal alheio. Em razão dessas aventuras, o menino ficou conhecido nas imediações como “Manguinha”.
Nas peladas disputadas na Ilha do Leite, nos becos ou terrenos baldios, Manguinha já era uma curiosa atração, até mais do que os artilheiros. Tinha mania de ser goleiro e se atirava em qualquer bola, mesmo que o terreno fosse impróprio.
Arrojado e corajoso, Manguinha não largava nem os petardos das antigas bolas de borracha, que deixavam um vermelhão estampado nas mãos.
O pernambucano Haílton Corrêa de Arruda, o Manga, nasceu Recife (PE) no dia 26 de abril de 1937.
Até que em 1954, o jovem Manguinha foi observado mais atentamente por um tal de Capuano, olheiro do Sport Club do Recife.
Em 1955 recebeu a primeira chance no time principal, ao entrar no lugar do goleiro Carijó durante um amistoso contra o Náutico Capibaribe, na Ilha do Retiro.
Com uma grande atuação diante do Náutico, o apelido Manguinha virou coisa do passado. Enquanto isso, o titular Carijó não aceitou o banco de reservas e muito menos uma renovação de contrato com o mesmo salário.
Dessa forma, Carijó deixou Recife foi parar no América do Rio de Janeiro, onde decidiu abandonar o futebol aos 28 anos de idade.
Campeão pernambucano nas edições de 1955, 1956 e 1958, Manga permaneceu nas fileiras do Sport Recife até 1959, quando foi contratado pelo Botafogo de Futebol e Regatas.
Na época, o time da “Estrela Solitária” contava com o experiente goleiro Ernâni, que não botou fé quando Manga chegou ao clube com uma estranha camisa quadriculada para treinar.
Brincalhão, Ernâni chamou Manga de “Cow-Boy” e quase arrumou uma boa briga. Evidentemente, Ernâni desconhecia o temperamento de Manga, que não gostava de brincadeiras com desconhecidos.
Nas 24 partidas do Botafogo no campeonato carioca de 1959, Ernâni não jogou mais do que 4, enquanto Manga foi o dono absoluto da posição nos anos seguintes.
Em grande fase, seu nome foi relacionado no grupo canarinho que embarcou para disputar o mundial de 1966, na Inglaterra.
Fora das primeiras partidas contra Bulgária e Hungria, quando Gylmar do Santos Neves foi o titular, Manga foi escalado para o último compromisso da fase de grupos contra Portugal.
Nessa partida decisiva, Manga cometeu uma falha comprometedora no primeiro gol lusitano marcado por Simões, aos 14 minutos da primeira etapa. A derrota por 3×1, custou nossa eliminação antecipada da Copa do Mundo.
O nome de Manga continuou presente nas manchetes esportivas, principalmente depois da conquista do título carioca de 1967.
O jornalista João Saldanha acusou o goleiro de ter se vendido ao dirigente do Bangu Castor de Andrade, algo que nunca foi devidamente comprovado.
Mesmo com vitória do Botafogo, Saldanha achou estranho o comportamento de Manga durante o jogo. Na festa do título, realizada no restaurante Mourisco, o enfrentamento entre os dois envolveu tiros e muita correria.
Pelo Botafogo, Manga foi campeão carioca de 1961, 1962 e 1967; campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1962, 1964 e 1966; e campeão da Taça Guanabara em 1967.
Sem ambiente no clube, o goleiro foi negociado em 1968 com o Club Nacional de Football de Montevidéu.
Na época, o time uruguaio contava com pelo menos quatro ótimos goleiros, sendo que o titular era o respeitadíssimo argentino Rogélio Dominguez.
E Manga, que não admitia concorrência, aos poucos conquistou o lugar de titular. Em 1971, com a contratação de Héctor Santos junto ao Penãrol, a briga pela camisa 1 esquentou.
Após ser substituído em uma partida do Nacional disputada no Paraguai, Manga ficou furioso e não apareceu para treinar na reapresentação do time.
Então, movido por um sentimento de suposta justiça, Manga exigiu do presidente do clube um documento para sua permanência como titular absoluto.
Pelo Nacional, Manga foi tetracampeão uruguaio nas edições de 1969, 1970, 1971 e 1972, da Libertadores da América de 1971 e também do mundial interclubes de 1971.
Manga voltou ao Brasil somente em 1974 para defender o Sport Club Internacional. Participou do grande esquadrão que conquistou o campeonato gaúcho de 1974, 1975 e 1976, além do bicampeonato brasileiro de 1975 e 1976.
Em 1977, Manga disputou o campeonato brasileiro pelo Operário (MS) e na temporada seguinte defendeu o Coritiba Foot Ball Club, conquistando o campeonato paranaense de 1978.
Depois, Manga ainda voltou ao cenário gaúcho para jogar pelo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, quando conquistou o título estadual na temporada de 1979.
O goleiro jogou ainda pelo Barcelona Sporting Club (Equador), onde também conquistou os títulos nacionais de 1980 e 1981.
Aos 44 anos de idade, Manga decidiu deixar os gramados. Sua data de nascimento representa o “dia do goleiro”, uma homenagem justa por suas grandes defesas e lances de rara elasticidade.
As mãos enormes e marcadas por lesões e fraturas mal curadas, nunca o afastaram das batalhas ao longo de sua marcante caminhada. Um símbolo de longevidade!
Créditos de imagens e informações para a criação do texto: revista Placar (por Aristélio Andrade, Divino Fonseca, Hélio de Souza, JB Scalco, José Eugênio, Lenivaldo Aragão, Roberto José da Silva e Sandro Moreyra), revista Deportes, revista do Esporte, revista Estrellas Deportivas, revista Fatos e Fotos, revista Manchete, revista Manchete Esportiva, revista O Cruzeiro, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, acervo.oglobo.globo.com, blogs.diariodepernambuco.com.br, cacellain.com.br, campeoesdofutebol.com.br, estadao.com.br, gazetaesportiva.net,globoesporte.globo.com, internacional.com.br, museudosesportes.blogspot.com, site do Milton Neves (por Rogério Micheletti).
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