O ASA vive um momento triste de sua história. Não tem mais calendário em 2019. Atravessando uma severa crise financeira, o clube não é, nem de longe, aquela equipe que despontou no cenário nacional entre os anos de 2009 e 2011.
Um dos responsáveis pela ascensão do ASA foi o técnico Vica. Em Arapiraca, ele marcou época, conquistou dois títulos alagoanos e elevou o patamar do clube no Campeonato Brasileiro. Da Série C para a B. O treinador conhece como poucos o Alvinegro.
Vica não quis falar muito sobre o momento, disse que acompanha pouco. De sua passagem, tirou lições e memórias marcantes.
- O primeiro ato positivo daquela época: eu fiquei três anos e meio, quase quatro anos. Eu lembro muito bem daquela época e acho que o ponto principal de tudo foi o entendimento entre comissão técnica e diretoria. A diretoria fazia o planejamento, organizava a parte financeira... Durante o tempo que fiquei aí o ASA nunca atrasou salário, esse era um ponto forte do ASA. Quando você saía para contratar algum jogador, o clube já tinha uma fama de bom pagador. Isso é muito importante e torna fácil de reforçar a equipe - lembrou Vica.
- Existia esse planejamento de quanto poderia gastar. A organização da diretoria era muito grande, o pessoal era muito unido e quem chefiava o departamento de futebol na época era o Zé da Danco. Quando eu cheguei, o presidente era o doutor Celso (Marcos), ainda muito jovem, mas cheio de vontade. Então, tinha uma diretoria bastante atuante e deixava comissão técnica trabalhar porque confiava no nosso trabalho.
Essa organização fora de campo refletiu dentro das quatro linhas. Para ele, o ASA deu um salto antecipado.
- Com o passar do tempo, nós adiantamos em um ano o nosso planejamento. De 2009 para 2010, nós não tínhamos ainda a ideia de subir para a Série B, mas antecipamos um ano. Mesmo assim, com organização, fizemos um bom campeonato e começamos a nos preocupar com a estrutura física, que era o centro de treinamento.Esse terreno foi adquirido, foi feito trabalho de irrigação e acho que falta muito pouco para o ASA ter o seu centro de treinamento, embora pequeno, mas em condições de o clube fazer os seus trabalhos e não precisar ficar saindo para localidades mais distantes como fazíamos na época, quando nós íamos muito para a cidade de Junqueiro.
Vica disse que, com os resultados acontecendo dentro e fora de campo, o modelo de gestão do ASA despertou a atenção dos grandes clubes da capital.
- Eu lembro que na época em que ASA comprou esse terreno para o seu CT, CSA e CRB não tinham seus centros de treinamentos como têm hoje. Então, eu acho que, de um lado positivo, o ASA abriu os olhos de CSA e CRB. A partir dali, eles pensaram assim: "Opa, se a gente não se organizar aqui, o ASA vai passar a gente". Tanto que o ASA estava numa Série B, enquanto CSA e CRB, não. Isso foi um sinal de alerta para os clubes da capital.
Ponto de desequilíbrio
O treinador cita qual foi o ponto de desequilíbrio que fez com que os planos começassem a desandar.
- Infelizmente, o ASA não concluiu o seu CT, teve problemas de troca de diretorias, entrou uma diretoria inexperiente, onde o time não teve sucesso. Acho que ali começou a descampar um pouquinho. Eu sinto muito porque gosto bastante, tenho um carinho especial por esse clube, tenho amizades em Arapiraca. Depois de um tempo, tudo o que tinha de positivo, de repente, mudou e o ASA ficou um clube marcado. Passou a dever para muita gente, coisa que até então não devia.
E isso manchou um pouco aquela história belíssima que a gente construiu aí em Arapiraca.
Apesar da má fase, Vica garante que ainda há como reconstruir o clube. E ele dá dicas para isso.
- Se as pessoas que comandavam o ASA naquela época voltarem a se unir na cidade, os grandes empresários, que são fortes, poderosos, se tiver essa união, aliada à ajuda financeira de patrocínios, o ASA volta. Mas tem que voltar organizado.
- Tem que pegar aonde parou, principalmente do projeto de centro de treinamento, isso tem que ter... E, no segundo passo, a reforma do estádio municipal, acho isso importante essa reforma porque você terá uma casa boa para mandar jogos. Aí é possível dar a volta por cima, sim. Os empresários de Arapiraca entendem e gostam de futebol, gostam do ASA e acho que têm tudo para voltar.
A cidade tem uma união forte para fazer um ASA forte. Acho que esse é o caminho. Sem isso aí, dificilmente, o ASA volta.
Aposta na base
Sem poder de investimento para grandes contratações, o treinador indica como o ASA deve montar o time para a próxima temporada.
- Isso [trabalho de base] é fundamental. Os grandes clubes do futebol brasileiro hoje estão voltando para o trabalho de base. No meu começo no ASA, a diretoria chegou pra mim e disse: "Temos 14 garotos da base e precisamos que você trabalhe esses garotos. Vamos contratar o restante para completar o elenco". Foi aonde que começamos a trabalhar o Júnior Viçosa, o André Nunes, Cal tava começando, Didira tava começando... São apenas alguns nomes. Você trabalhar 14 garotos da base numa equipe profissional disputando campeonato... Esses garotos melhoraram muito e ajudaram o ASA.
Modelo a ser copiado
Vica cita um trabalho que vem dando certo num grande clube do futebol brasileiro, modelo que, segundo ele, serve de modelo.
- Eu visitei a base do Fluminense, lá em Xerém, e é fantástico o trabalho que fazem lá. É dali que estão saindo os jogadores para o profissional do clube. Eles estão buscando a solução na própria base.
Sem clube no momento, o técnico, de 58 anos, conta como tem tocado a carreira.
- Eu tenho um centro esportivo em Araraquara, estou montando uma escolinha de futebol de franquia do Fluminense. Estou pertinho de casa. A Portuguesa foi o último clube que eu trabalhei: faltavam seis jogos e nós fizemos um trabalho para manter a equipe na série aqui do Paulista. Recebi alguns convites aí do Nordeste, não acertei e estou esperando a oportunidade, mas não estou com aquela pressa de voltar a trabalhar.
NM com Denison Roma
Fotos: Ailton Cruz/ Gazeta de Alagoas, Josiel Martins, 7segundos, Valdeir Gois/Divulgação ASA
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