Foto: Marlon Costa (Pernambuco Press) |
É o caso do Sport que, em dois meses, viu o débito referente à compra de André, junto ao Sporting, de Portugal, saltar cerca de 24%. E sem dinheiro em caixa, desdobra-se nos bastidores para pagar dentro do prazo e evitar o bloqueio na janela de transferências como punição.
Antes de tudo, é preciso entender que os valores das taxas de conversão para moedas internacionais sofrem alterações constantes de acordo com a oferta e demanda de mercado. O cálculo envolve diferentes fatores, como, por exemplo, número de importações e gastos de turistas no país. Em momentos de crise, quando a economia sofre problemas a nível mundial, a tendência é de que investidores apostem na moeda americana e europeia, porque têm mais estabilidade que as demais. Com isso, elas sofrem valorização.
O Real caminha no sentido contrário. Nesta semana, o jornal Financial Times ouviu especialistas e alertou que a moeda brasileira tem o pior desempenho a nível mundial em 2020, podendo cair ainda mais. É um reflexo do impacto econômico impulsionado pela crise da Covid-19.
Dentro deste cenário, quando notificado pela Fifa, em 4 de março, o Sport tinha uma dívida de R$ 4,5 milhões a pagar. Ali, o Ministério da Saúde investigava um possível quarto caso da Covid-19 no país. Agora, duas semanas após receber a ordem de pagamento em € 907.500 ao Sporting, de Portugal, o Rubro-negro deve R$ 5,6 milhões. O Brasil, por sua vez, ultrapassa as mil mortes por dia (com 17.983 ao todo) e 271.885 casos confirmados da doença.
O débito na Fifa têm impacto significativo nos cofres do clube, uma vez que, em 2020, o Rubro-negro lida com uma dívida a curto prazo de R$ 145 milhões. Ou seja, precisando ser paga dentro de 12 meses. Na Série A do Brasileiro, no entanto, o Leão não está só. Porque clubes como Fluminense, Santos e Palmeiras também acumulam pendências de caráter internacional na entidade. E mesmo em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, a Fifa está levando as cobranças adiante.
O jornalista especializado em negócios do esporte, Rodrigo Capelo, explica que Sport, Fluminense e Cruzeiro vivem situações semelhantes, porque vinham acumulando dívidas em realidades financeiras muito fragilizadas. E entram numa sinuca de bico, uma vez que não têm fonte de receita alternativa para usar.
- Direitos de transmissão, quem tem, antecipou, patrocínio está muito difícil, e com a crise fica pior. Bilheterias, portões fechados. Sócio torcedor, os dirigentes apelam à emoção, mas sem a principal contrapartida, que é o estádio, é natural que todo programa despenque. Transferência de jogador, não sabemos se vai haver demanda, clubes europeus ou asiáticos querendo comprar jogadores brasileiros. Então, quando você olha para essas fontes de receita ordinária e não tem muito mais para onde expandir, não tem muita solução. Eles vão ter que recorrer aos "mecenas", para ver se encontram o dinheiro de algum salvador da pátria.
O Palmeiras, cobrado na Fifa em US$ 3 milhões (agora cerca de R$ 18,7 milhões) referente à compra do atacante Borja junto ao Atlético Nacional, da Colômbia, é um caso à parte. No balanço financeiro de 2019, o clube aponta a variação cambial como um risco, por comprar e vender atletas internacionalmente, e diz não possuir mecanismos para cobrir possíveis perdas. De acordo com Capelo, portanto, pode-se dizer que haverá um impacto forte nas contas do clube, mas ele está menos vulnerável que os demais.
No Sport, sem dinheiro em caixa e com quedas de receita, a diretoria trabalha nos bastidores para solucionar a questão por meio de pessoas consideradas influentes. É o que diz o presidente do Leão, Milton Bivar.
"Abrimos o link, é com pessoas certas para tratar e ajudar no assunto. Essas pessoas estão trabalhando e tenho certeza que vamos chegar a bons termos. O link é um negócio interno do clube. Não pedimos ajuda para torcedor. Pedimos ajuda a pessoas influentes, que podem ajudar a gente nesse momento. Pessoas que tenham contato com Portugal. Está sendo negociado diretamente com o Sporting Lisboa. Estamos aguardando aí, o negócio está indo."
Vale lembrar que as tentativas de parcelamento da dívida e concessão de direitos dos pratas da casa Adryelson e Juninho, antes oferecidas pelo Sport, foram negadas pelo clube português. André foi comprado ainda em janeiro de 2017, na gestão de Arnaldo Barros, quando o Leão adquiriu 50% dos direitos do atleta, mas não pagou. O atacante deixou o Recife em 2018, vendido ao Grêmio por € 2,5 milhões (cerca de R$ 10 milhões à época).
NM com Camila Alves — Recife
A mudança na cotação do Euro
Foram contabilizados os valores apontados nas sextas-feiras, ao fim do fechamento da cotação de cada semana, a partir da notificação da Fifa ao Sport em relação ao caso de André
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