Nossa admiração pelo assunto Arbitragem falou mais alto e resolvemos continuar as nossas matérias especiais com os integrantes da Comissão de Arbitragem de Alagoas, a C.A. CBF. Já conversamos com o Corregedor Dr. Edson Resende, com o Ouvidor Dr. Paulo Jorge Alves e também com o Diretor da Arbitragem da CBF, Sérgio Correa da Silva.
E dessa vez vamos conversar com o Professor Paulo Camello, o responsável pelo acompanhamento físico da arbitragem nacional e não é só isso.
Acompanhem a entrevista e conheçam mais este profissional respeitado por todos as árbitros do Brasil.
Poderia informar seu currículo enquanto educador físico?
Formei-me em Licenciatura Plena, pela Univ. Gama
Filho em agosto 1987. Com especialização em Treinamento Desportivo pela própria
Gama Filho em 89/90 e futebol em 91 pela UFRJ.
Trabalhei durante 20 anos no Fluminense FC, no Rio
Grande do Sul e Goiás.
1 - Há quanto tempo está trabalhando com os árbitros? Trabalha sozinho?
São sete anos e desde 2009, dividindo os trabalhos
com o Prof. Dionísio Domingos.
2 - Como surgiu a oportunidade?
Iniciei a convite da entidade em final de 2005,
onde já trabalhava desde final de 1990
prestando serviços, primeiro como avaliador físico das seleções, e a
partir de setembro de 1995 passando a ser também preparador físico das seleções
nacionais. Com a arbitragem, foi visando a preparação dos árbitros brasileiros
designados para Copa do Mundo da Alemanha em 2006. Naquela época houve mudanças
drásticas nos testes físicos, necessitando uma nova metodologia de treinamento
e adaptação por parte dos árbitros de todo o mundo. Inclusive os nossos.
3 - Soube que o senhor também foi Preparador físico de clubes e das
seleções de base da CBF.
Qual a principal diferença entre os jogadores de base,
profissional (times considerados grandes e pequenos), em relação aos árbitros
na preparação física?
Quem sua mais?
Bem, na verdade, os jogadores ainda apresentam um
volume de trabalho maior que os árbitros, pelo fato de serem profissionais e
normalmente somente exercerem esta profissão. Por isso, tem um volume maior de
horas voltadas ao treinamento físico que os árbitros. No entanto, nos últimos
anos, o processo de cobrança físico imposto aos árbitros se elevou, provocando
alterações drásticas na forma, e nos números de horas treinadas por eles. Este
processo foi alavancado pelas determinações da FIFA, em evoluir grandemente o nível
físico, técnico e psicológico dos árbitros internacionais. Isto acabou sendo
determinante, para que nos adequássemos a esta nova fase do futebol
internacional e também nacional. E assim tem sido feito e continua evoluindo.
4 - Como anda a atual situação física dos árbitros brasileiros?
Para nossa alegria,
evoluímos significativamente no aspecto físico, já que o processo que começou
em 2006 foi progressivamente sendo posto em prática em todo o país, e todos
foram se adequando as novas realidades, não sem antes, sofrer bastante, já tudo
que se fazia até então, teve que ser modificado. Metodologia de trabalho,
controle físico, técnico e psicológico. Mas podemos dizer que atualmente nosso
quadro nacional, tem tido aprovação em torno de 90% nas avaliações físicas que
seguem o padrão Fifa. Logicamente existem alguns problemas, mas continuamos num
processo evolutivo.
5 – Qual região tem a maior dificuldade em cumprir as exigências físicas
atuais?
Eu diria que hoje, temos um equilíbrio de norte a
sul do país. Variando muito pouco, se analisarmos percentuais de dificuldade em
cumprimento das exigências físicas.
6 – É feito algum acompanhamento da composição corporal?
Sim, estamos já ha algum tempo, tentando avançar
também neste aspecto, em todos os estados. Procurando sugerir melhoria neste
aspecto também com os Preparadores estaduais. Para que a apresentação física
visual também seja adequada.
7 – Tem árbitros que tem uma compleição física de que esta acima do
peso.
Ele passa no teste, mas parece estar fora de forma. Como o setor encara
isto?
O Sr. tem conhecimento de como a CA encara isto?
Sim, sem dúvida. Estes casos são até mais comuns do
que possa parecer. É importante explicar, que o sobrepeso, é sempre uma grande
preocupação da preparação física e médica. Porém, ela muitas vezes não é
determinante para reprovação nas avaliações físicas de campo. Pois alguns
árbitros, apesar de carregarem este excesso de peso, que certamente dificulta
bastante seu desempenho, no entanto, no momento de seu rendimento no teste,
muitas vezes conseguem superar o rendimento de alguns bem mais magros, e serem
aprovados na pista.
Nossa maior preocupação é que este árbitro
compreenda que isso provoca um desgaste desnecessário ao seu corpo, sendo muito
prejudicial a sua saúde. Desta forma, solicitamos que inicie em seu estado, um
novo regime alimentar indicado por um profissional da área nutricional, para
possa reverter este quadro de forma equilibrada, evitando situações de risco.
Se o mesmo, não apresentar nos meses seguintes nenhuma melhora, poderá ser
notificado pela CA nacional, seu afastamento temporário até que se adeque as
normas pedidas. Esta observação é também muito observada pela Fifa em seus
quadros.
8 – Os pilares físicos, técnicos e o psicológico se reúnem para cuidar
do calendário das avaliações, ou tudo era feito pela CA e determinado aos
pilares?
Os três primeiros sim. O mental, apenas nos cursos.
9 – Qual sua opinião sobre a Escola Nacional de Arbitragem. O que ela
poderá ajudar na melhoria do desempenho da arbitragem? Qual será a sua função
na ENAF?
Acredito que a Escola Nacional poderá contribuir na
elaboração, coordenação e desenvolvimento das atividades que promovem o
processo evolutivo da arbitragem nacional, em conjunto e cooperação com os
demais órgãos formativos estaduais, e de classe, que devem conjugar suas
forças, para melhoria da qualificação e das condições de trabalho dos árbitros
do país. Este órgão vai tirar da CA uma carga muito grande de preocupação.
Em abril teremos um novo curso de atualização
promovido pelo Programa de Desenvolvimento da Arbitragem da FIFA. Este curso
será realizado, de 17 a 21 de abril de 2013 em Vitória – ES. Mais uma vitória
da CA-CBF.
10 – Como o senhor acompanha todos eles com as distâncias que nos
separam?
Estamos em fase de desenvolvimento de projetos, com
a delegação de atribuições de observação e controle, por parte dos professores
locais, que são os que convivem mais de perto com eles. Observamos também os
relatórios dos observadores técnicos que fazem pontuações sobre os aspectos
físicos dos árbitros nas partidas e ajudam neste controle a distancia. E temos
alguns casos dos árbitros de elite, aspirantes e promissores, que são
monitorados por alguns frequencímetros, que armazenam informações sobre os
jogos e os treinamentos que fazem durante a semana, facilitando nossa
visualização do que está sendo feito.
11 – Tenho acompanhado vários testes físicos aqui em Alagoas, só de
olhar já me deixa cansado (RS). Aqui não são oferecidas boas condições para os
avaliados (Pista de areia e Horário com 34° no sol), isso influência os
resultados? (A turma aqui reclama muito, dizem que no RJ são feitos a noite e
com uma pista totalmente apropriada). Como são as 27 pistas pelo país?
Ainda temos diversidades no país com relação às
pistas para os testes físicos. Além de Alagoas, vários outros estados tem o
mesmo problema. Porém, apesar de não serem as ideais, a verdade é que temos que
nos adequar as nossas realidades, e nos prepararmos para fazer o melhor, dentro
das adversidades. Assim com acontece nos jogos, no nosso país tropical, o calor
estará presente em quase todo o território, o ano todo. A forma de minimizar é
buscar um horário menos quente se for possível. No caso específico do Rio, só é
feito à noite, porque é o horário que a federação local, tem disponível a
pista, apenas isso. Os demais estados, se tiverem tal possibilidade, poderão
fazer o mesmo.
12 - Como foi a preparação física dos árbitros que foram a Copa de 2006,
2010 em comparação aos da Copa 2014? Tem como comparar com uma Copa, como a de
70, por exemplo? -
As recorrentes repetições e por falta de treinamento, apoio,
numero excessivo de jogos (calendário apertado) ou as dificuldades do teste.
A
CBF tem um banco de dados com os resultados e o estágio de cada um?
Sobre as preparações das últimas Copas,
especialmente sobre a de 2006, posso falar que tive total liberdade e controle
sobre o que foi feito e dos resultados conseguidos. Já sobre a de 2010, já houve
diferenças no desenvolvimento dos treinamentos e do controle dos árbitros,
assim como a de 2014 também apresenta diferenças, só que mais na diversidade de
informações e no aumento dos dados coletados, assim como um aumento na
intensidade dos testes.
Na primeira, tive que adequar toda a metodologia de
treinamento as novas necessidades e exigências dos testes físicos que foram
modificados em 2005. Totalmente distinto do que se fazia até então.
Primeiro procurei reconhecer as novas necessidades
físicas dos árbitros, para então traçar o planejamento para os próximos 3, 4 e 5
meses até as vésperas da última avaliação para a Copa. Foi uma excelente
experiência, já que pude desenvolvê-la aproveitando minha experiência com o
futebol, além de poder sentir o que passaram a sofrer os árbitros na hora do
teste, pois procurei também fazê-lo, no período de estávamos concentrados na
granja Comari para o início de 15 dias de trabalho em janeiro de 2006. Assim
caminhamos, e ao voltarem para seus estados, levaram uma planilha de trabalho
semanal, que era atualizada ao final de cada semana, até as novas testagens na
Suíça em março e abril, quando foram aprovados preliminarmente, e depois onde
fizemos novo trabalho de intensificação de treinos em Teresópolis em maio às
vésperas da ida para a Alemanha. Lá,
foram novamente testados e aprovados, acabando sendo classificados no aspecto
físico, entre os 3 melhores trios internacionais daquela Copa. O que nos trouxe
muita alegria, pelo esforço e dedicação de todos durante todo o processo de
preparação. Para 2010, a coisas mudaram bastante, pois a Fifa resolveu
direcionar as ações de treinamento para os árbitros indicados, e estes,
passaram a seguir um planejamento deles, com pouca influência de nossa parte. E
é o que continua ocorrendo hoje para 2014, praticamente, todo o trabalho é
indicado e direcionado pela Fifa, e cabe a nós, mais dar apoio aos árbitros,
quando solicitados, do propriamente determinar o que deve ser feito. Já que o
controle é feito por informações enviadas diretamente do árbitro, para FIFA.
13 – Recebi informações que o senhor é muito competente, e todos os
árbitros gostam de sua metodologia de trabalho, diferente de seu antecessor
Dionísio Domingos, qual o segredo para conquistar todos, e o que o Senhor fez
de diferente para ter esta aprovação da maioria?
Em primeiro lugar uma coisa que julgo muito
importante, é sempre procurar respeitar a metodologia da cada profissional, e
procurar entender suas realidades. Porque existem sempre muitos caminhos, para
se alcançar os objetivos, e cabe a cada profissional, escolher e direcionar
suas ações, e assim ter seus resultados alcançados. E em respeito a isso,
devemos também entender as diferenças, e saber aceitá-las para que a
convivências entre as partes possa acontecer em harmonia. Fico feliz com essas
afirmações, porém não devemos esquecer o grande trabalho desenvolvido pelo
Prof. Dionísio, em um determinado momento em que estive afastado, quando
percorreu todos os estados do país ajudando a difundir e corrigir as falhas que
aconteciam nestes locais, após as modificações estruturais da arbitragem nacional.
A rudeza em alguns momentos pode ter acontecido, porém com total vontade de
acertar, e aumentar o espírito de cooperação, responsabilidade, e justiça, para
melhoria da arbitragem brasileira em todo território nacional. Sendo assim,
talvez a forma de como fazer, seja nosso maior diferencial, e se relaciona
creio eu, pelas características pessoais inerentes ao ser humano, mas que não
acredito, vieram a comprometer os objetivos a serem alcançados.
14 – Qual a diferença na preparação física de um árbitro e de um
assistente? Os testes para os assistentes estão adequados?
Este assunto é sempre motivo de discussão, e
logicamente, existem diferenças. O primeiro necessita de uma demanda física
superior de resistência e potência combinadas, na direção da partida. Se
comparadas as necessidades dos assistentes, que necessitam de mais potência e
velocidade em suas funções. Porém a meu ver, a FIFA ainda não encontrou o que
realmente almeja para definir o teste ideal para cada grupo de árbitros, e isso
se faz visível, em sua procura em novas formas de avaliar a ambas as
categorias. Para isso, tem feito experimentos, com a inclusão de novas
variações e modalidades de testes, incluindo o campo de jogo, que poderão se
encaixar melhor nas reais necessidades dos árbitros e dos assistentes.
Favorecendo assim, uma melhor distribuição da avaliação física para o caso de
um e de outro. Então, não nos cabe julgar se são adequados, mas corroborar com
os estudos, e tentar desenvolver novas formas de avaliação, que se encaixem
melhor neste perfil. Enquanto isso não ocorre, devemos nos preparar
adequadamente para alcançar os índices necessários para aprovação, e
especialmente, para uma ótima direção das partidas.
15 - Resumidamente como é realizado o FIFA TEST. Os preparadores físicos
das federações cumprem o protocolo FIFA. Sabe dizer quais as Federações que
cumprem os índices completos (sabemos, por exemplo, que em anos anteriores o
Rio de Janeiro aboliu o teste dos 40 metros; a comissão alagoana aumentou o
tempo, etc.)? Se não cumprem, o que isto acarreta para o setor que o ser dirige
quando eles são indicados para compor os quadros da CBF?
De forma geral, o FIFA Test é dividido em
categorias, sendo o de categoria 1 para os árbitros internacionais, o de
categoria 2 para nacionais, categoria 3 para estaduais e para o gênero
feminino.
Em todos, constam uma avaliação de velocidade com 6
tiros de 40m em velocidade com tempos máximos pré-determinados, tendo até 1’30”
para fazer o tiro seguinte, até que se complete os 6; seguido a isso, após um
intervalo de 6 à 8 minutos, são feitos 20 a 24 tiros de 150 m com tempo máximo
pré-definido para cada categoria para árbitros e assistentes. No site da CBF
temos todos os pormenores dos tempos a cumprir em cada respectiva categoria.
Entendamos que cada avaliação deve estar
relacionada a sua respectiva categoria, no grupo a que se insere o nível de seu
árbitro. Sendo assim, toda vez que ocorrer uma avaliação internacional, será
cobrado do árbitro, o índice categoria 1. Quando for uma avaliação nacional, se
aplicará a de categoria 2, e assim sucessivamente. Então, cada estado, poderá
se utilizar para sua avaliação local, do índice que couber a categoria
estadual. No momento que o árbitro for indicado a fazer o teste de nível
nacional, que será o caso do mês de março, serão cobrados deles, o índice
nacional, para que possa atuar em competições nacionais. Para os já
internacionais e aspirantes FIFA, será cobrado o índice internacional, para que
possam estar aptos a trabalhar também em partidas internacionais, já que
ostentam tal escudo, caso contrário, poderão deixar tal categoria se não
cumprirem esta exigência. E os aspirantes, para estarem em condições de assumir
tal posto, se houver alguma desistência, ou alteração do quadro internacional.
É facultativo as federações decidir como avaliar
seus árbitros no âmbito estadual, porém, se estas avaliações forem
desproporcionais as necessidades do grupo que almeja ascender ao quadro
nacional e até internacional, esta atitude certamente será um tiro no próprio
pé, já que não qualifica nem prepara adequadamente seu árbitro para evoluir,
física e tecnicamente.
16 – Temos dirigentes com parentes na arbitragem. Eles podem participar
destas avaliações. Como agia a CA anterior e como agirá a CA atual?
Que eu saiba, não existe nenhuma restrição a
inclusão de pessoas com parentesco na arbitragem, nem creio eu, em qualquer
outro setor do país. Salvo esteja enganado, em cargos públicos ou algo do
gênero. Creio que qualquer pessoa tem segundo a constituição, direito de
participar de qualquer área profissional, desde que preencha os requisitos
técnicos para tal, e cumpra seus respectivos deveres. Sendo assim, a meu ver,
não há qualquer impedimento legal para essa participação, desde que como disse
antes, esteja cumprindo rigorosamente os requisitos a que se propõe.
Devemos lembrar, que em todos os ramos
profissionais, temos parentes diretos ou indiretos, atuando em suas áreas, sem
nenhum constrangimento. E acredito que também na arbitragem, deva ser assim.
Ninguém deverá sofrer represálias por ser, ou ter parentesco com algum integrante
da arbitragem. Ao mesmo tempo, que não deverá receber benesses pelo mesmo fato.
Devemos seguir o principio da igualdade de direitos, e da capacidade individual.
Para isso, existem a Procuradoria e Corregedoria, que são responsáveis em
dirimir as dúvidas, receber denúncias, e após analises dos fatos, dar destinação
adequada ao processo. Os protocolos físicos avaliativos são todos abertos ao
público, e tem total transparência para que nada possa alterar a lisura do
processo.
17 – Como era trabalhar com Sérgio Corrêa e como foi com o Aristeu
Leonardo?
Dos dois não tenho nenhuma queixa a fazer, assim
com disse sobre o Prof. Dionísio, acredito que devemos entender as diferenças
das pessoas, para que haja uma boa convivência, seja na nossa casa, seja no
trabalho. Logicamente, haverá sempre diferenças, pois o ser humano é diferente
um do outro, e também poderá haver divergência de ideias, ou de posições. Porém
nada que não possa ser discutido com argumentações criteriosas para se chegar a
um ponto comum. Os
objetivos principais são os mesmos: “A evolução da arbitragem nacional”.
18 – Quem são os responsáveis pelo pilar físico na América do Sul. Como
eles encaram os árbitros pré-selecionados e os demais internacionais?
A FIFA mantém um programa em de apoio e
desenvolvimento da arbitragem em todo o mundo chamado RAP. E é responsável em
oferecer cursos anuais de aperfeiçoamento nas 3 áreas, sendo na América do Sul
em parceria com a Conmebol. Na área física, o Prof. Cristian Rosen que é
argentino, é o responsável. Porém, o responsável geral na área física é o
também argentino Prof. Alejo Perez, que controla todos os árbitros
internacionais, enviando planejamentos de treinos e recebendo os informes dos
árbitros com seus planos de treino. Fazem um ótimo trabalho, buscando uma
evolução continua por parte dos árbitros.
19 – Os árbitros internacionais, os aspirantes e os especiais realizarão
quantas avaliações este ano? Qual índice será cobrado deles?
A previsão é de 3 avaliações. Seguindo a orientação
da FIFA de fazer de 3 a 5 anuais.
20 - E as dificuldades para o gênero feminino. A CBF nunca pensou em
fazer uma transição para elas? Por que exigir os índices masculinos, haja vista
que tem grandes Federações que não exigem?
Gosto muito desse assunto e foi ótimo ter tocado
nele. Até porque sou um estimulador da maior participação feminina na
arbitragem, e estive diretamente atuando no processo de transição das
avaliações físicas a partir de 2006. Então vamos por partes.
Desde que se iniciou o processo de transição física
na arbitragem, todas as categorias e gêneros, foram afetados. Na medida em que, as alterações foram sendo
feitas, com a introdução do FIFA Test, o processo de treinamento também teve
que ser modificado para todos. E aí também as mulheres tiveram que se adequar a
nova demanda física. Vale lembrar, que tudo foi sendo feito progressivamente, e
assim como os homens, que treinavam pouco, e passaram a ter que treinar mais, e
de forma diferente. As mulheres tiveram que se adequar a isso também.
Infelizmente, a maior “fragilidade física” (não é pejorativo) da mulher nesse
caso, ficou mais evidente. Gostaria de destacar, que isso também ocorreu com os
homens. E tem uma explicação até simples de se entender... O grande problema
dos árbitros de forma geral nos últimos 8 a 10 anos, era que o aspecto físico,
não tinha uma cobrança tão grande, e com isso, pouco se precisava fazer para
alcançar os índices mínimos necessários para aprovação.
Sendo assim, pouco se treinava fisicamente para se
manter arbitrando. Alia-se a isso, uma quase que total inexperiência de
formação desportiva, por parte dos árbitros, na sua infância e adolescência. O
que isso quer dizer. Que muito poucos tiveram uma experiência atlética
prolongada anterior à arbitragem, especialmente na sua adolescência, que
facilitaria muito a adaptação a qualquer dos novos processos de treinamento.
Sobrepeso e pouco histórico físico pregresso, foram sempre os maiores
obstáculos dos árbitros para se adequarem aos novos momentos. E as mulheres
árbitras, especialmente, isso foi, e tem sido preponderante nos ainda baixos
índices de aprovação. Porém, já melhoraram muitos nos últimos 3 anos. Então, o
que tem ocorrido, é que o processo vem ocorrendo já a bastante tempo, e só
permanecem, as que superam suas dificuldades para alcançarem os índices
masculinos.
Lembro ainda, que o problema não é de “fragilidade
física do gênero feminino”, comparado ao masculino, mas sim, de adaptação e
assimilação, aos treinamentos físicos necessários para feitura do teste. Um
exemplo claro disso, são os diversos resultados expressivos das mulheres, em
competições de vários esportes, como atletismo por exemplo. Muito melhores que
da maioria dos homens comuns treinados.
Por isso, o que diferencia este processo seletivo,
é o tempo de adaptação aos trabalhos físicos, necessários para esse momento. Não,
simplesmente ser homem ou mulher. Tudo vai depender do que você trás de
histórico de trabalho físico, que características físicas você apresenta, para
evoluírem mais rápido neste aspecto. Não podemos esquecer também, que a própria
FIFA, exige que as árbitras internacionais que queiram trabalhar nos jogos
masculinos, cumpram os índices masculinos. O que, convenhamos é correto e uma
forma natural de igualdade de direitos e responsabilidades. Afinal, a cobrança
dentro das 4 linhas, não deve ver sexo, cor ou credo, e sim, capacidade
técnica, física e mental. E são 3 atributos que as mulheres são em muitos
casos, superiores aos homens. Só depende delas, serem perseverantes, para
transformar isso em realidade. E estejam certas que sempre terão nosso total
apoio.
21 - O sr já acompanhou uma competição feminina. Qual a diferença entre
o gênero feminino x masculino. Em quanto tempo as mulheres poderão apitar com a
mesma aptidão física? Quantas arbitras e assistentes passam no teste masculino
e isto representa quanto em percentuais?
Realmente a força física e a dinâmica do jogo ainda
apresentam uma diferença considerável. Porém no jogo, as mulheres também tem apresentado
grande evolução física o que os tem tornado mais rápido e disputado. Desta
forma as árbitras estão sendo mais exigidas, e com isso, o processo de
qualificação vai sendo aumentado também, necessitando maior treinamento e
dedicação por parte das árbitras.
O que irá direcionar essa situação, será o grau de
determinação e comprometimento por parte das árbitras, sabedoras que tem uma
tarefa árdua e desgastante, mas que acredito firmemente, que não demorarão a
chegar nesse patamar, e eu torço para isso, porque as considero muito capazes.
Atualmente o gênero feminino da CBF conta com 77 Oficiais de Arbitragem,
sendo 11 árbitras, com apenas 1 delas apta para atuar no campeonato masculino
(Regildênia Moura, FIFA-SP) e 66 assistentes, com 14 delas aptas. Das
Internacionais, terminamos 2012, com as quatro com índices do gênero masculino
22 - No aspecto físico, qual a mensagem para os nossos leitores, para os
árbitros e para os que pensam em seguir esta árdua missão?.
Primeiramente, agradecer a oportunidade de tentar
buscar esclarecer vários pontos relacionados à preparação física da arbitragem
atual, esperando ter respondido com clareza e simplicidade, as questões
enviadas. Aos árbitros e futuros árbitros, que continuem firmes em seus
propósitos, de evoluir sempre, e não esquecer que a arbitragem é uma atividade
apaixonante, envolvente, porém voluntária, ainda não profissional aqui no
Brasil. E por isso, não se esqueçam de que só permanecerão, os que realmente
estiverem dispostos a pagar um alto preço, dedicando parte da sua vida
cotidiana, a treinamentos exaustivos e cobranças constantes. Entendendo que os
erros acontecerão em algum momento, mas que poderão ser minimizados, por seu
esforço, dedicação, responsabilidade constante e diária.
Um forte abraço a todos e até outra oportunidade.
Gostaríamos de agradecer ao Professor Paulo Camello pelo tempo que foi desperdiçado com o nosso espaço na internet.
Nada melhor do que conversar com o mais importante profissional na preparação física dos árbitros da CBF antes de um teste, falo do teste físico de amanhã da CBF no Recife onde estarei acompanhando o desempenho dos árbitros alagoanos que se juntarão aos árbitros Pernambucanos visando a participação nos campeonatos brasileiros de 2013.
Uma grande conquista das nossas reportagens, junto claro ao Apito Nacional que a todo momento esteve na luta para melhorarmos as condições da pista onde se aplica a avaliação para os árbitros alagoanos.
Parabéns a CBF que sensatamente direcionou nossos árbitros e assistentes para uma pista de verdade com condições humanas de desenvolver o potencial físico dos nossos "apitadores e bandeirinhas".
Não pense que ficaremos por aqui no quesito cobrar mais melhorias para a categoria, estaremos sempre de olho e tentando ajudar da melhor forma possível nossos "Homens de Preto".
Abraço do Paulo Lira.
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