Foto: Arquivo Pessoal
A prática do esporte é um caminho cheio de possibilidades na formação do ser humano. Seja ela desde pequeno ou com o passar dos anos. Mas, quando uma pessoa nasce com o dom ou é incentivada desde criança, existe uma grande chance de resultar em algo positivo, seja ou não na área esportiva.
No caso de Pedro Araújo Paes Filho, de 33 anos, o esporte começou desde cedo e trata-se de uma religião em sua vida. Ainda bebê foi levado pelos pais para a natação. Quando cresceu, praticou handebol por nove anos e já adolescente, partiu para a famosa musculação.
Porém, a prática de uma atividade física servia para questão da saúde, mas também para a questão estética, típica da idade. Os anos se passaram e há quatro anos atrás, descobriu a corrida de rua, colecionando participações e medalhas em provas amadoras locais.
A escolha por essa prática, abriria portas para um desafio muito maior: o triathlon. “Descobri o triathlon através de um tio que já participava há uns 5anos. Comprei minha primeira bicicleta uma speed, e só fazia a modalidade sprint, cheguei a viajar para Sergipe pra fazer o campeonato de sprint de lá”, disse Pedro.
O que era apenas paixão, se tornou coisa séria, uma vez que a prática entrou de vez na rotina de Pedro Paes Filho. As categorias foram mudando, as dificuldades aumentando e chega um momento, que o praticante precisa de novos desafios. E que desafio o alagoano foi buscar, a disputa do IronMan, prova mais complexa do triathlon, que reúne 3,8km de natação, 180km de ciclismo e 42.195km de corrida (maratona completa).
Pedro Paes Filho completando o IronMan este ano (Foto: Arquivo Pessoal)
Este ano, pela segunda vez, “Pedrinho” como é chamado por familiares e amigos, participou do IronMan de Florianópolis. Mas, houve resistência para participar desta prova. “Depois de participar de provas aqui em Maceió e Sergipe eu dizia para todos que nunca faria um IronMan. Comecei no campeonato alagoano de sprint 750m natação, 20km bike e 5km de corrida, e implantaram a modalidade da distância olímpica que consiste 1500m natação, 40km bike e 10km corrida. Daí já comprei minha segunda bicicleta um pouco mais cara que a primeira e já uma bike de triathlon. Passei um ano mais ou menos no olímpico, fiz um long distance na Paraíba 3000m natação, 80km bike e 20km corrida. Quando fazemos uma prova longa, vemos a superação que é completar e você parte para distância maiores é inevitável, Depois dessa prova fui assistir o meu tio que participou do Ironman e quando voltei para Maceió, estava decidido que faria IronMan no ano seguinte”, lembrou.
Enquanto um sonho estava sendo construído, traçado na cabeça e nos treinamentos, os resultados seguem acontecendo. Pedro já foi Campeão geral por dois anos seguidos no Alagoano de Triathlon, já fez o Long Distance em 5h14min, o primeiro IronMan em 2014, concluiu em 11h30min e neste ano, uma redução de tempo considerável, terminando com 10h37min, e o Challenge em 5h19min.
Quando se imagina que o desafio do IronMan para um alagoano que tem familiares, trabalho, entre outro afazeres, é muito, vem uma grande surpresa. Pedro se inscreveu para participar da prova de UltraMan, que será disputada em três dias, entre o Rio de Janeiro e São Paulo e tem distâncias muito maiores que o IronMan.
A escolha para estar entre os 32 atletas que participam do evento, emocionou o alagoano que já iniciou a preparação para o evento em 2016. “O Ultraman é bem diferente das provas de triathlon que existem no mundo. Não é só chegar lá, se inscrever e você está dentro. No UltraMan você se candidata enviando seu currículo esportivo, e a organização vai analisar e dizer se você tem condições ou não de terminar a prova. Foi uma conquista sem tamanho para mim. Quando a organização me ligou, fiquei surpreso e sem reação, cheguei a chorar no telefone por ter conseguido ficar entre os 32 atletas selecionados de todo o mundo para o Ultraman Brasil 2016”, comemorou.
A prova internacional é a maior disputa dentro do triathlon. O evento será realizado em três dias consecutivos. Cada dia com um tempo de corte de 12h. Serão 10km de natação, 421 km de bike e duas maratonas 84,4km de corrida. O primeiro dia é 10km natação+145km bike, o segundo dia é 276km bike e o terceiro é a dupla maratona 84,4km de corrida. A prova começa na cidade de Paraty no Rio de Janeiro, vai até Ubatuba em São Paulo e depois volta e termina na praia da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Ao todo, serão são 515km quando somadas as distâncias.
Rotina de família e treinos para seguir colhendo frutos no esporte
Quando cita o tio, o triatleta lembra a presença da família, tanto na prática do esporte, quanto no incentivo. O tio em questão, é Fabiano Paes, que assim como Pedrinho é membro do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas e foi o melhor alagoano no IronMan deste ano e no Challenge, prova internacional que aconteceu em Maceió no mês de agosto. Mas, não se pode esquecer do pai, Pedro Paes, que é um veterano corredor de rua em Maceió, conhecido tanto pelas participações em provas locais e fora do Estado, como na organização e inventivo em eventos esportivos.
Pedro ainda não é casado, mas tenta conciliar namoro e os treinos. Afinal, o incentivo da companheira é fundamental. “Tenho namorada, não tenho filhos, mas tenho sobrinhos. Minha namorada me apoia sempre em minhas decisões e está sempre junto em minhas conquistas dentro do esporte. Nós triatletas de endurance, abdicamos de muita coisa, pois temos que dormir cedo para acordar antes do sol nascer. Eu por exemplo, me acordo todos os dias de domingo à domingo, às 04:00h a manhã, quando ainda está tudo escuro, para fazer a primeira seção de treinos do dia às 5h. Abrimos mão de saídas a noite, tento dar atenção nas horas que tenho livre, mas a vida noturna acabou desde que decidi fazer esse esporte, e não me arrependo pois amo o que faço”, comenta.
(Esquerda) Pedro pai e pedro filho após o IronMan. (Direita) Antes da largada para natação do Iron Man, Pedro e o tio Fabiano juntos (Foto: Arquivo Pessoal)
Outro ponto que se deve administrar é o trabalho. Assim como o tio, Pedro é Bombeiro Militar e tem de alternar entre os horários de serviço como guarda-vidas e os treinos. Nem sempre acontecem da forma mais adequada, mas os treinamentos precisam seguir, como confirma o atleta.
“Sou bombeiro com muito orgulho. Para nós atletas amadores, as vezes a situação é complicada. No meu caso, trabalho hoje como guarda-vidas em uma escala que trabalho um dia e folgo dois. As vezes é complicado fazer um treino longo de 5 ou 6 horas e depois ir trabalhar, o corpo fica muito cansado querendo descanso, sempre tento trocar o serviço quando cai em dias de treinos longos, mas quando não dá, tem que treinar e trabalhar mesmo, não tem jeito”, explicou.
Relacionamento, trabalho, tudo isso parece ser difícil de administrar para um atleta. Mas, e quando ainda é obrigação levar uma vida regrada, em todos os sentidos. Pedro conta que escolheu ser atleta e por isso, segue na linha. “Tudo bem regrado, sono, alimentação com as quantidades de calorias baseadas nas horas da planilha, desde que acorda com um pré-treino, até a ceia antes de dormir. Me alimento de sete a oito vezes por dia, com acompanhamento de um nutricionista esportivo, a parte de treinos faço parte da Santiago Ascenso Assessoria Esportiva. Ele planeja meus treinos treinos de natação, ciclismo e corrida. Ainda tenho um técnico de natação, e um professor que faz meu acompanhamento de fortalecimento muscular na academia Fit Arena. Em se tratando de cuidados, ainda faço fisioterapia preventiva na Cinemática, para prevenção de lesões”, explicou.
Mas, nem tudo é sofrimento. Um dos prazeres de praticar esporte e que poucos tem, é poder fazê-lo em família. Juntamente com o pai e o tio, Pedro tem incentivadores à todo momento. “Meu pai é corredor de rua e meu tio é um IronMan. Sempre que dá treinamos juntos. Sempre estamos puxando os membros da família pra fazer atividade física e ter uma vida mais saudável. Confesso que não é uma tarefa fácil, pois tem que partir da pessoa, ela tem que querer, mas sempre que nos encontramos em família, conversamos sobre o assunto, mas nada forçado, um compra um bicicleta aqui, outro anda de patins ali, outra faz academia e assim, aos poucos, vamos colocando a família dentro do esporte pra ter uma qualidade de vida melhor”, afirmou.
Foto: Arquivo Pessoal
Por escolha, Pedro Pares Filho decidiu se tornar um atleta, conciliando família, trabalho, entre outras responsabilidades. Para uns, pode ser sofrido, para ele, é paixão. Nem todo mundo tem disposição ou condições para entrar de cabeça no esporte. Mas, o futuro Ultraman deixa um recado para os atletas.
“O recado que deixo é que pra você entrar em qualquer modalidade esportiva, seja ela triathlon, corrida de rua, natação, qualquer outra, não precisa ser um atleta de rendimento pra ter qualidade de vida e saúde, tem que vir de dentro a motivação. Inspire-se em pessoas que já praticam, é uma questão de hábito, basta sair de casa pra fazer uma caminhada ou corrida, basta colocar um óculos e sair pra nadar no mar ou subir em uma bicicleta e pedalar. Separe um tempo do seu dia pra cuidar do seu corpo. O esporte te leva onde você não imagina chegar. A prática te leva a ter mais saúde e bem estar, menos doenças. Você conhece lugares espetaculares até dentro da sua cidade, você vê vários espetáculos da natureza com cada paisagem maravilhosa e só confirma que Deus existe de verdade, só depende de você, seja sua própria inspiração”, recomendou.
Por fim, Pedro Pares Filho vai mostrar que a sua paixão precisa ser compartilhada, principalmente para ajudar pessoas. “Quero acrescentar que sem o apoio da família e amigos é impossível de realizar um sonho como esse do UltraMan que irei enfrentar. Serão 7 meses de treinamentos duros, chegando a ficar 10 horas fora de casa treinando, parece loucura, mas é o que escolhi pra minha vida. Quero ficar velhinho fazendo triathlon, não me vejo sem a prática do triathlon. Para agradecer tudo que tenho, inclusive saúde e disposição, uma coisa que farei é uma campanha pra arrecadar 515 kg de alimentos pra fazer uma doação a uma instituição de caridade. Será 1kg de alimento pra cada quilômetro da prova. Farei essa campanha até o final do ano. Como fui abençoado por Deus para estar nessa prova, quero retribuir, e não tem nada melhor do que ajudar a quem precisa”, concluiu.
NM com Paulo Chancey Júnior